quarta-feira, 29 de dezembro de 2010

A Lenda da Moça


À noite ela desce ao rio
Levando consigo formas soberbas
Na calmaria que o vento permite, o cio
Se desmancha aos levantes das pernas

E banha seu corpo no céu da maré
Vestido despido ao olhar animal
Um homem surgindo, um olhar divinal
Seduz a mestiça, morena possante

Cativa ela foi banhar seu corpo nu
Encantada surgiu dançando amante
Do homem-animal, dos rios meliante

Na aurora descida ao fundo se foi
A mestiça-amante ao coito partiu
Deixando marcados a noite e o rio

Melgaço, 29 de novembro de 2010.

quarta-feira, 22 de dezembro de 2010

Sabores da Dor

Tua dor sacia os lábios da taça
Mas os lábios da taça
Não saciam tua dor.

Itamar de Vasconcelos

In Rio das Dores - 2010

sexta-feira, 10 de dezembro de 2010

Trova Insistente


Canta, assanha, dá
O olho azul, lado-a-lado na cama
Má menina dá o beijo frio
E joga agora meu corpo na lama
Escorre, corrente do sumo da terra
Raiz misturada ante gigante escondido



Itama de Vasconcelos R. Jr

segunda-feira, 6 de dezembro de 2010

Rio das Dores



O oitavo volume de Poesias, Rio das Dores, estará disponível ao público até o final de dezembro.

aguardem...

segunda-feira, 29 de novembro de 2010

O Navegante - Capítulo I


I
É com pouco que ando irritando-me
São coisas que vejo e sinto
Mas não queria sentir mesmo que as visse
Pois há calma na vida quando não se preocupa com coisas que não são suas
E não é fácil lidar com as coisas dos outros

Por mais que eu tente ou lute
Não adianta, é mais forte que eu
Então, deixa de ser um sentimento que me pertence
Eu é que o pertenço, por mais que o negue.
Não seria improvável acontecer de sermos resultado das coisas
E não elas de nós
Mesmo que eu não queira ver
Sinto, e isso é, como disse, mais forte do que eu

Viajo tentando encontrar um lugar
Diferente ou não deste que vivo
Empolgo-me com mais um dia que vai nascer
Nem sempre fico feliz
Sinto que alguns dias são iguais
E esta mania que tenho de sentir
É que não me faz ser indiferente.
Cometo os mesmo crimes
Ganho os mesmos sorrisos falsos
E acabo me convencendo de que alguma coisa mudou
Para melhor ou pior, não importa
Menos valeria permanecer parado

Não queria ver o que vejo e me importo
Ter o que tenho e jogar fora
Ser o que sou se tudo está mudo.
Não queria querer motivo para ser feliz
Não queria ser infeliz se fosse um prêmio

São pessoas, as que vejo e toco
Desejos, que tenho e amo
Loucuras, que a mim inspiram
Vidas, que me aposso e vivo

O que seria da canoa sem o rio?
E da flor sem o perfume e sem a cor?
O que seria da cidade sem as casas, as ruas e os botequins?
O que seria da vida sem a morte?

Não faço apologia à coisa alguma além daquelas que acho corretas
Escrevo e isso me faz ir além dos pensamentos
E seguir na viagem da vida como da canoa eu o capitão

O Navegante

"Quando navego, escrevo
E se escrevo, navego
Independentemente do rio que navego, navego
Seja no rio de minhas memórias
Ou nos rios do Marajó"
(in O Navegante - Volume V - Itamar de Vasconcelos)